Diante da crise econômica global e da posição de fragilidade do Brasil no cenário econômico, o Front – Instituto de Estudos Contemporâneos perguntou como enfrentar esta crise?
Marcio Pochmann, professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas
O quadro econômico internacional já apresentava, no ano de 2019, sinais de desaceleração. Inclusive com alguns países registrando recessão, como o caso da Alemanha e o Japão. De tal forma que o início de 2020 se apresenta como um quadro mais desfavorável, não apenas pela situação econômica que vinha desde o ano passado, mas pelos pontos foram se estabelecendo pela epidemia global do coronavírus – que impacta a economia, o turismo e o comércio – e também por esta disputa entre produtores e exportadores de petróleo que levou a queda considerável das bolsas valores. Portanto, estamos caminhando para uma possível recessão na economia mundial.
No caso brasileiro, a situação nos parece ainda mais preocupantes, porque o Brasil, neste início de 2020, tem um nível de atividade econômica que encontra-se abaixo de 3% do que já havia sido em 2014. Nós nunca havíamos, historicamente, convivido com um período tão longo, cinco anos, em que a economia brasileira não conseguiu manter um nível de atividade econômica ou uma recuperação. Tanto é que o quadro econômico é lamentável eo sofrimento humano pelo desemprego, o desalento, a pobreza, a desigualdade se manifestam de forma inegável no nosso país.
Diante desta circunstancia, prosseguir no receituário neoliberal – que parte do pressuposto que reduzir o Estado, o setor privado se torna maior e mais forte- não tem mostrado resultado, tampouco as promessas que foram feitas não produziram o esperado. Ao contrário, o Brasil hoje tem uma situação econômica muito desfavorável, perdendo posições relativas no comércio externo, ausência de recursos para investimentos e uma fuga de capitais do país, especialmente o dólar.
O momento exigiria uma mudança de sentido da política econômica e social, abandono do receituário neoliberal, e uma nova atuação que buscasse enfrentar as mazelas nacionais e as consequências que vem da economia internacional, isso pressuporia um plano emergencial que fortalecesse o mercado interno, para isso que tivéssemos mecanismos que estimulem a renda dos trabalhadores, ao mesmo tempo uma decisão de combinação de investimento publico combinado com o privado em várias áreas de carência nacional. Obviamente outras medidas são necessárias, mas essa reversão de sentido só acontecerá com uma maioria política, uma pressão popular para que isso se altere. Não acreditamos que com o governo atual e da forma como tem atuando, nós poderemos sair deste quadro que já vem se prolongando há mais tempo e tende se agravar. Não descartamos a possibilidade de uma recessão no Brasil, uma redução do nível de atividade que colocaria para o povo brasileiro um quadro pior do que o vivido no ano passado.